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Step 1 - Setting and characters
Crime na Estrada da Excomungada
Portugal
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O CRIME NA ESTRADA DA EXCOMUNGADA



Algures na Beira Interior, num dia frio e cinzento, por entre os esconsos caminhos ladeados pela serra e o denso arvoredo, terá ocorrido um crime. Era véspera do Dia de Todos os Santos. Um tímido raio de sol iluminava, teimosamente, o riacho que se deixava vislumbrar do alto da Estrada da Excomungada.
A personagem central desta história é Cidália, uma padeira natural de Medelim (Idanha-a-Nova), que todos conheciam pelo seu riso franco e palavras fartas. Mulher roliça, não escapava aos que com ela se cruzavam, o seu porte de mulher trabalhadora, desembaraçada nos gestos e com as marcas das horas de labuta, gravados nas suas mãos fortes. O marido, Manuel Castanheira, era um homem que a todos inspirava um certo receio, pelo seu semblante carregado, dir-se-ia mesmo, sinistro. Estrábico e homem de poucas palavras, só desmanchava o silêncio e o mau humor, quando pela manhã regava o seu pequeno-almoço, habitualmente, borrachões, com cálices de aguardente. Na vila, todos sabiam que, com alguma frequência, agredia a mulher, Cidália, apesar de ser esta que garantia o sustento da casa.
Falemos de Florinda, a ajudante da padeira Cidália. Mulher alegre, de corpo ágil e atraente, não escapava por isso ao olhar dos olhos cobiçosos dos homens da aldeia. De seios insinuantes, rosto bonito espelhando os olhos cor de esmeralda e os brancos dentes, de faces rosadas e cabelos ruivos, Florinda tinha outros dotes. Incansável trabalhadora, ajudava pela noite dentro, na produção do pão e, esporadicamente, na sua distribuição, junto de Cidália.
A jovem Margarida é uma rapariga da aldeia de Medelim, estuda Biologia no IPCB e é confidente de Cidália. Curiosa e arguta, conhecedora do meio onde residia, era uma rapariga observadora e disponível, conquistando a simpatia dos demais, embora, por vezes, fosse demasiado insistente nas perguntas que fazia, querendo saber de tudo.
Norberto, um rapaz pacato e um tanto acanhado, vive dos biscates que vai conseguindo fazer na aldeia, para ajudar a família. Trabalha na padaria, junto de Cidália e de Florinda. É bem visto na vila, pelo seu ar afável e tranquilo, bem como pela prontidão em ajudar todos, quando algum problema surgia. Margarida conhece-o desde pequena.
Os Inspetores da Polícia Judiciária são Carlos Martins e Hélio Tavares, conhecidos como os “Mata-Ratos” por serem habilidosos a resolver pequenos crimes, pelas aldeias e outros lugares recônditos do país.
Step 2 - Crime scene
Na véspera do Dia de Todos os Santos, Cidália tinha ido, como de costume distribuir o pão pelas aldeias vizinhas. Visitava habitualmente as escolas, onde a recebiam com algum alarido, próprio da criançada e dos fiéis compradores, funcionários e professores que não dispensavam as suas iguarias. Naquele dia não compareceu. Todos deram pela sua falta e se interrogaram pela sua ausência inusitada. A estranheza mordia em silêncio a mente de todos. Ela nunca faltava.
Já pelo fim da tarde, a carrinha do pão foi encontrada por um automobilista que por ali passava, abandonada num declive da Estrada da Excomungada.
A parte da frente do veículo estava amachucada e o vidro partido. A porta do condutor, encontrava-se aberta. A carrinha ainda cheira a pão e aos seus saborosos borrachões. Um cheiro prazenteiro que contrasta com o cenário de desastre. Pode observar-se uma mancha de sangue no banco do passageiro.
Cidália não se encontra no interior da viatura. Na verdade nada se sabe dela. Estará viva? Terá sido raptada? O mistério está instalado.

Step 3 - The detective
Chegam ao local do suposto crime, os detetives oficiais, os agentes Carlos Martins e Hélio Tavares. Trabalham na diretoria da Polícia Judiciária da Guarda. Encontram-se na faixa etária dos quarenta anos. Naturais de Coimbra, trabalham contrariados na Guarda e anseiam pela transferência para a sua cidade Natal.
Dir-se-ia que eram dois homens habituados às histórias bizarras que aconteciam, aqui e ali, no interior do país. De cumplicidade evidente, depressa se familiarizaram com a cena. Crime! - disseram eles. Tudo levava a crer que a ausência do corpo, a mancha de sangue num dos bancos, os interrogatórios e diligências que entretanto tinham efetuado, junto do marido e dos funcionários da padaria, os testemunhos das pessoas da aldeia, enfim, parecia configurar-se um crime.
Margarida, com a idade de 19 anos, conhece Norberto desde a escola primária, em Medelim. Embora estude Biologia no IPCB, o seu sonho era o estudo de Ciências Forenses cujo curso não pode frequentar no Porto, por dificuldades económicas. Morena, de longos cabelos pretos e olhos vivos, é dotada de uma excelente memória fotográfica. Aliás, é uma apaixonada pela fotografia e fotografa todos os detalhes da cena do crime. Amiga e confidente de Cidália, Margarida não se conforma com o desaparecimento desta e resolve partir em busca da descoberta dos contornos do crime. Muito arguta e curiosa sabe, pela amiga, que Florinda tem um caso com o marido de Cidália.
Step 4 - The suspects
Manuel Castanheira, marido de Cidália era um homem ciumento e possessivo. Consumia-o a suspeita de que a mulher andasse envolvida com o biscateiro, Norberto. Ultimamente as discussões eram frequentes, tanto mais que ocorriam quase sempre sob o efeito do álcool. Manuel tinha uma já longa dependência do alcool, todos o sabiam.
Florinda Esteves mantém, secretamente, um caso com Manuel Castanheira, marido de Cidália. Mulher muito ambiciosa, calculista, tinha ciúmes de Cidália. Apesar de esta ser maltratada por Manuel, de não ser propriamente uma mulher atraente, era contudo poderosa. Um poder que a tornava a legitima dona da padaria. Dir-se-ia, dona das verdadeiras decisões. Além do mais, a estima e respeito que conquistara com a sua honestidade e competência eram motivos de inveja por parte de Florinda que almejava um estatuto assim, para a sua vida.
Norberto Bordalo, acanhado e reservado, é um rapaz com algumas dívidas. Diz-se que teve um passado pouco feliz na capital, onde viveu alguns meses e de onde regressou apressadamente. Norberto vive num silêncio ao mesmo tempo tranquilo e misterioso. Por vezes, parece viver num mundo paralelo.
Margarida é testemunha do último encontro de Cidália, ainda trabalhando com o forno, antes de partir para a distribuição do pão.
A jovem tinha-se levantado às cinco horas da manhã para ordenhar o rebanho de ovelhas que a sua avó tinha nas proximidades da padaria e viu Cidália a despedir-se de Norberto. Uma despedida normal, mas ainda assim, algo surpreendente.

Step 5 - Examine the Crime Scene
Os detetives Carlos Martins e Hélio Tavares, aproximaram-se da carrinha.
O faro de detetives, disse-lhes de imediato que não seria um simples acidente. Embora, fosse esse o aparato que se lhes apresentava, desde o carro batido contra uma árvore, até ao vidro partido, tudo indicava tratar-se de um despiste, de um embate. Mas onde se encontrava a suposta condutora? E o sangue no lugar ao lado do condutor?
Não havia corpo. O Cheiro a borrachões e um cheiro a cigarro recentemente aceso. Era o que tinham. Recolheram todas as impressões digitais. Amostras do sangue encontrado, fios de cabelo no banco do condutor, impressões no volante e na porta, escancarada. Fotografaram o interior da viatura. Embora existisse ainda o cheiro a tabaco, verificaram que não havia cigarros ou piriscas dos mesmos.
Percorreram os lugares em torno do carro encontrado. O caminho percorrido desde a estrada. Não havia travagem.
O dia cinzento, deixava que uma nesga de sol apontasse para o riacho que passava, mais em baixo. No meio das altas ervas que se misturavam com a água suja do riacho, suja pelos dejetos das vacas que ali pastavam amiúde, estava um corpo. Enlameado, mal se podia descortinar o rosto. Contudo, a mão branca, talvez ainda pincelada pela farinha do pão, não deixava qualquer dúvida. Era Cidália, a padeira.
As suas roupas envolviam o corpo molhado, mas a certa altura, após alguns momentos de atenção repararam que tinha um hematoma na fronte da cabeça.
Teria batido com ela durante o embate? Teria caminhado para o ribeiro na esperança de encontrar algum ânimo com a água fria na testa e no corpo? Teria simplesmente sido projetada? Ou teria ali sido colocada por alguém? Quem?
Uma observação mais atenta revelou, então, que o seu pescoço apresentava sinais de estrangulamento. Estava já negro.
Cidália, a mulher poderosa pelo seu temperamento, tenacidade e competência, a mulher habituada a ganhar a vida com o seu trabalho, servindo os outros, tinha morrido na estrada da Excomungada. Seria assim?
Step 6 - Mystery Resolution
Os detetives reúnem os indícios e pistas. Analisam-nas até à exaustão.
Após os interrogatórios, têm conhecimento da relação amorosa entre Manuel Castanheira e Florinda Esteves. Os amantes juntavam-se durante o dia, quando Cidália fazia a distribuição do pão. Só Norberto se apercebia desses encontros furtivos, nas arrecadações da padaria, o que o corroía por dentro.
O cheiro a tabaco também parecia indiciar a presença de um fumador na carrinha. Manuel era fumador.
O historial de maus tratos em relação a Cidália, os ciúmes, diga-se, pelo que se investigou, infundados e até despropositados, pelo menos na aparência, só contribuíam para fazer do marido de Cidália o suspeito preferencial. Contudo, o sangue encontrado no banco ao lado do condutor, não era dele. Nem de Cidália. A análise feita à amostra de sangue recolhida, prova que era de Norberto.
Margarida, a jovem estudante, tinha acompanhado toda a investigação de perto.
Conhecia bem Norberto. Tão bem que tinha reparado em algo estranho no seu comportamento, nos últimos dias. Movia-se com uma certa dificuldade, estava mais taciturno do que o habitual e, para espanto da jovem, parecia abeirar-se de Florinda para lhe segredar algo, com demasiada frequência. O que teria de facto acontecido?
Margarida era uma rapariga afoita, persistente, arguta, para além de rigorosa nas suas análises. Era muito intuitiva. Esta espécie de dom nascera com ela. Desde pequena que se habituara a deixar-se conduzir pela sua intuição.
Durante a noite, deslocou-se ao casebre onde Norberto habitava. Munida de uma lanterna e sempre acompanhada pela sua máquina fotográfica, Margarida vasculhou todo o casebre. Especialmente, o quarto.
Com algum nervosismo, não fosse encontrada em casa alheia, no negrume da noite, olhou para um canto onde deparou com umas calças de ganga embrulhadas. Estendeu-as e verificou que tinham uma mancha do que parecia ser sangue. Fez-se luz, na sua cabeça. A sua respiração tornou-se mais ofegante e, quis o acaso ou a sua habilidade que dentro do velho roupeiro, desse com um pequeno lenço onde se encontrava uma chave de fendas ensanguentada. Perto dele, um cinto largo e forte, colocado estrategicamente a seu lado, talvez para que, de seguida, lhe fosse dado sumiço. Neste cinto foram, pouco depois, descobertos vestígios de ADN de Cidália.
Margarida não esperou mais. Fotografou todos estes objetos e, cuidadosamente, colocou-os num saco de plástico limpo.
Saiu a correr dali, por entre o matagal, e dirigiu-se a sua casa.
Nada dormiu nessa noite.
Ao outro dia, confrontou os inspetores com os objetos recolhidos.
Foi, então, que narrou a sua versão do crime.
Florinda, ambiciosa, amante de Manuel, fora a mandante do crime. Encomendou-o a Norberto. Este nutria por ela uma secreta paixão, mas sobretudo precisava do dinheiro que, em troca do crime, lhe era oferecido por ela.
Nesse dia, véspera do Dia de Todos os Santos, Cidália não suspeitava que a despedida de Norberto era fictícia. Na verdade, ele introduziu-se na carrinha e acompanhou-a, desculpando-se com uma oportuna boleia de que necessitava com urgência.
A meio do trajeto, na Estrada da Excomungada, obriga Cidália a parar o veículo e, sem dó nem piedade, estrangula-a com o cinto. Ela tenta defender-se e espeta a chave de fendas que levava normalmente debaixo do banco, na perna de Norberto. Apesar da dor, e do sangue que jorrava, a força do homem foi suficiente para terminar com a vida de Cidália. Ouviu o estertor da sua morte. Suspirou, entre a raiva que o consumia pela morte de Cidália, por quem nutria respeito e o regozijo de ter consumado a ordem dada.
Depois, encenou um acidente de automóvel, tal como havia combinado com Florinda. Após o mesmo, levou o corpo para a beira do rio, camuflando-o entre as pedras e as altas ervas que abundavam nas margens.
Florinda tinha conseguido ver-se livre da rival. Ficava com o amante e com o comando do negócio. Quem sabe, seria rica e poderosa.
Norberto pagaria as dívidas e talvez tivesse de Florinda alguma outra recompensa. Afinal, era bem mais jovem do que o acabado Manuel Castanheira e não lhe haviam escapado os olhares provocantes de Florinda.
Esta é a história que Margarida conta aos inspetores.
Verificadas as provas e confrontados os suspeitos, a sua versão dos acontecimentos é confirmada..
Margarida tinha desvendado o crime da Estrada da Excomungada.
Como excomungados são a avidez e alguns dos desenganos da vida.
Step 7 - The story trailer
Cidália é uma padeira que percorre os caminhos da Beira Interior, distribuindo pão e outros produtos, tais como os seus afamados borrachões. Mulher forte, trabalhadora, honesta e simpática, era acarinhada por todos os que se cruzavam no seu caminho.
Certo dia, Cidália falta à habitual entrega de pão. Caso estranho, pois nunca sucedera.
A sua carrinha é encontrada abandonada numa ribanceira, na Estrada da Excomungada. A Carrinha estava acidentada, mas Cidália não se encontrava no seu interior. Onde estaria? O que teria acontecido? Teria sido um acidente?
Uma mancha de sangue no lugar do passageiro adensa o mistério.
Um marido violento e ciumento, uma trabalhadora da padaria muito ambiciosa e um rapaz que parecia não fazer mal a ninguém, são os suspeitos.
Dois detetives "Os Mata-Ratos" lançam mãos à obra.
Entretanto, Margarida, uma jovem curiosa e astuta, descobre algo que baralha toda a história. Amores improváveis... e muito mais.
Não deixem de ler esta história.
Na Estrada da Excomungada, pode sempre acontecer algo inesperado.

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