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Step 1 - Setting and characters
O Fantasma da Biblioteca
Portugal
Portuguese
Naquela manhã, como habitualmente, a professora bibliotecária entrou na biblioteca e abriu as grandes janelas que dão para o pátio da escola. Viu o seu reflexo no vidro e, antes de entrar alguém, aproveitou para ajeitar os longos cabelos negros. Preparava-se para catalogar a pilha de livros amontoada no balcão de atendimento... Surpresa: no local onde deveria estar o computador, encontrava-se um velho livro, "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley. Rapidamente os seus olhos varreram a biblioteca à procura do equipamento e qual não foi o seu espanto, ao verificar que nas mesas da zona multimédia, onde deveriam estar os portáteis, se encontravam também livros, alguns já muito amarelados. Percorreu as mesas, lendo os títulos, "1984", "Fahrenheit 451", "Nós", "As Lições dos Mestres", "O Planeta dos Macacos", "O Triunfo dos Porcos", "Laranja Mecânica", "O Deus das Moscas" e... o seu sangue gelou quando leu o último título, "Um Cadáver na Biblioteca"...
- De certeza que alguém me quer pregar uma partida. Quem poderá ser?
Um aluno entrou de rompante e quase derrubou a jovem professora, que não conseguiu impedir a queda dos óculos.
- Stora, desculpe lá, é só mesmo tipo para ver o mail antes da aula - disse o rapaz esbaforido.
A jovem olhou desconfiada para a figura de cabelos desgrenhados, piercing na sobrancelha direita, calças de ganga rasgadas e com ténis All Star, um de cada cor nos pés.
Step 2 - Crime scene
Ana Sofia, apanhou os óculos e, nervosa na sua inexperiência, saiu para o corredor e gritou pelo funcionário do piso que se encontrava ao fundo do corredor a conversar com o Diretor. Ambos se dirigiram para ela imediatamente.
- Ó stora, se fosse eu a gritar nos corredores... - comentou o rapaz das All Star.
- Respeito, rapaz – disse o Diretor com autoridade.
- O que estás aqui a fazer tão cedo, Fábio!? Só tens aulas à tarde! - perguntou o sr. Augusto, na sua voz arrastada e rouca. De seguida, voltou-se para Ana:
- O que é que este malandro fez agora? Estragou alguma coisa na biblioteca?
- Os computadores desapareceram! Desapareceram todos!...
- Eu não fui. Esses pc nem dão para jogar - disse o rapaz, trocista.
- No tempo do professor Machado, nunca desapareceu nada daqui – retorquiu o funcionário e, lançando um olhar ao rapaz, acrescentou:
- E todos andavam aprumados.
- Ainda ontem vi esse velho. Muito mal vestido, por sinal. Nem sei o que andava a fazer por aqui, se já está reformado. Deve ter saudades de nos chatear.
- Vamos lá ver o que se passa! – sugeriu o Diretor.
Todos entraram na biblioteca. Na sala não se via um único computador, parecia uma biblioteca de antigamente com aqueles velhos livros por cima das mesas.
- Alguma coisa estranha se está a passar. Hoje de manhã, quando o sr. Leonel abriu a escola, encontrou uma série de exemplares do "Frei Luís de Sousa," com o carimbo da Biblioteca, espalhados pelos bancos do piso da entrada e do bar dos alunos - contou o Diretor.
- Qual? O livro do morto que voltou da guerra? Fui obrigado a ler essa seca! – exclamou Fábio.
Step 3 - The detective
Mais tarde, já no seu gabinete, o Diretor Onésimo sentado no cadeirão, passou a mão pela barba grisalha que escondia as rugas de 35 anos de serviço e pensou:
- Como podem ter desaparecido tantos computadores sem deixar rasto?
Fã de livros policiais e obcecado por enigmas, Onésimo viu neste problema uma oportunidade de pôr em prática a sua secreta vocação de detetive.
Metódico, mentalmente, reuniu todos os elementos do caso. Levantou-se do cadeirão, ajeitou a camisa impecavelmente engomada. Vestiu o casaco escuro com botões dourados nas mangas e certificou-se de que os sapatos continuavam brilhantes. Saiu do gabinete. Na mão, levava a lista dos nomes que pretendia interrogar e entregou-a à Dona Maria do PBX.
Step 4 - The suspects
Resolveu começar com a professora bibliotecária:
- A colega Ana não deu conta de nada estranho ontem? Quando saiu ficou tudo no lugar?
- Fechei as luzes às 7 da tarde e ficou tudo na normalidade do costume. Hoje quando cheguei, e fui a primeira a entrar na biblioteca, deparei-me com a situação que já lhe expliquei.
- Além de si, quem mais tem as chaves?
- Só eu e a funcionária da biblioteca.
- Mas ela não está de baixa?
- Ah, sim, sim, mas deixou as chaves ao senhor Augusto, no caso de ser preciso alguma coisa.
Onésimo pensou, sorriu para si próprio e mandou entrar o funcionário do piso.
- Sr. Augusto, alguém lhe pediu para ir à biblioteca fora do horário?
- Desde que a Lurdes meteu baixa e me entregou as chaves, elas nunca mais saíram do meu bolso. Ó... Ó, Senhor Diretor, isto está-se bem a ver o que aconteceu. Aquele malandreco do piercing nunca me enganou! Disse-me a professora Ana que ele ia ver o mail antes da aula e nem aulas tem hoje de manhã.
- Está muito bem! Chame o rapaz, se fizer favor.
- Então, Fábio, acabou a brincadeira, onde escondeste os portáteis? - vociferou o Diretor.
- Não tenho nada a ver com o assunto. Quem quer tralha do século passado?
- Negas que mentiste à professora Ana? Que foste fazer à biblioteca sem ter aulas? Ou será que já lá estavas quando ela abriu a porta esta manhã?
O rapaz olhou para a secretária do Diretor onde repousava a pilha de livros encontrados nos bancos da escola e resmungou:
- Já agora também fui eu que espalhei estes livros e passei cá a noite a lê-los...
O Diretor pensativo pegou no exemplar do "Frei Luís de Sousa", folheou-o e saltou-lhe à vista uma página dobrada num canto, assinalando a cena final do Ato II. Os seus olhos focaram-se na palavra "Ninguém", célebre resposta do Romeiro à pergunta "Quem és tu?" e que estava sublinhada a vermelho.
O rapaz pegou num outro livro e constatou o mesmo. Todos os livros tinham as mesmas marcas.

Step 5 - Examine the Crime Scene
O Diretor voltou à biblioteca. Podia ter-lhe escapado algum pormenor que agora com calma ia tentar descobrir. Não conseguiu encontrar nenhuma pista, além dos livros nas mesas. Percorrendo o espaço, mentalmente, reviu todos os factos conhecidos. Livros em vez de computadores. O mesmo livro espalhado pela escola. Porquê o “Frei Luís de Sousa” em particular? Qual o sentido da cena assinalada e da palavra “Ninguém”? Sorriu ao recordar-se do comentário de Fábio, “a história do morto que voltou da guerra”… De repente, uma ideia começou a formar-se. A ideia ganhou mais consistência quando pensou que ninguém poderia ter entrado na biblioteca porque as segundas chaves nunca saíram do bolso do senhor Augusto. Ainda assim precisava de algo mais consistente para validar a sua suspeita.
Parou junto do placar das memórias onde estavam expostas fotografias das atividades realizadas ao longo dos anos, dinamizadas pelos bibliotecários que por lá passaram. Numa delas, António Machado, o anterior bibliotecário, parecia fitá-lo.
Nesse momento, as suas suspeitas passaram a certezas. A teoria estava formada. Mas, como verdadeiro apaixonado pela literatura policial, não lhe bastava resolver o caso e apanhar o culpado. Queria fazê-lo com alguma espetacularidade. Além disso, não havia provas materiais incriminatórias, teria de levar o culpado e o seu cúmplice a confessar.
Step 6 - Mystery Resolution
No final da tarde, o Diretor chamou Ana Sofia e anunciou-lhe que teve uma ideia fantástica para a biblioteca em que queria envolver não apenas a atual bibliotecária, mas também o seu antecessor, unindo passado e presente para avançar para o futuro.
Ana Sofia não ficou muito entusiasmada com a ideia, mas acabou por anuir. A biblioteca acabava de ser roubada e o diretor em vez de enfrentar a questão inventava uma coisa qualquer, pensou ela.
Depois de informar a bibliotecária dirigiu-se ao funcionário e, como quem fosse apenas falar do caso dos computadores, acabou por lhe referir que estava a pensar num projeto fantástico para a biblioteca e gostava imenso de envolver o professor Machado.
O funcionário não conseguiu disfarçar o seu entusiasmo, nem a relação pessoal que tinha com o antigo professor:
- O professor vai ficar todo contente, ainda noutro dia ele se queixava para mim que nunca ninguém se lembrava dele nem de tudo o que tinha feito pela biblioteca.
- Sabe quem é que também devia estar na reunião? É o senhor! Vou fazer de si o funcionário da biblioteca. Você conhece isto como ninguém! – exclama Onésimo.
No dia seguinte, reuniram-se na biblioteca. O diretor agradeceu a presença de todos. Deu umas palavras de elogio a cada um. Atirou umas frases feitas sobre a transição digital e anunciou que queria transformar aquele espaço numa biblioteca do futuro, a primeira biblioteca escolar 100% digital.
Fábio, que o Diretor também convidara para a reunião em representação dos alunos, reagiu euforicamente:
- Boa! Uma biblioteca sem livros! Viva o Diretor!
O velho bibliotecário não se conteve e explodiu de indignação:
- Isso é um ultraje! A suprema vergonha! A facada final no livro enquanto coração do saber!…
E confessou que foi ele que fez tudo, revoltado com o desinteresse a que a biblioteca tinha sido votada, cada vez mais cheia de computadores e vazia de livros.
O funcionário, numa prova de amizade e coragem, assumiu a cumplicidade.
- Já temia que fosse um fantasma, mas o senhor António Machado está bem vivo! - Ana Sofia deu um ar da sua graça. Aliviada perguntou:
- Mas afinal onde estão os computadores?
Machado apontou para a estante da literatura. De pé, encostados uns aos outos, ocupavam o espaço que fora o das muitas edições do Frei Luís Sousa.
O nosso detetive acariciou os botões dourados e, à boa maneira dos livros de que tanto gostava, encerrou o mistério com uma frase marcante:
- Eu descobri-o António, mas foi você que nos apanhou a todos.
Step 7 - The story trailer
Misteriosamente desaparecem os computadores portáteis da biblioteca escolar. Espalhados pela escola, sem se saber de onde vieram, encontram-se vários exemplares da obra “Frei Luís de Sousa”, com a mesma página assinalada. Na ausência de pistas concretas, cabe ao Diretor, fã de romances policiais, deslindar o mistério que envolve estes acontecimentos sem qualquer relação aparente.

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