- Afinal, por que razão alguém agrediu Laura Pereira?
- De acordo com a perícia da polícia que lemos, parece que o Paulo é o principal suspeito da agressão, porque foi apanhado a sair daqui pouco depois do ocorrido e havia impressões digitais dele no pé-de-cabra.
O móbil da agressão parece ter sido dinheiro: ele veio-lhe pedir dinheiro, segundo a sobrinha de Laura Pereira, uma tal Helena Pereira. Segundo o testemunho dela, ouviu vozes exaltadas em discussão na noite em que a senhora foi agredida. Segundo ela, o Paulo e a namorada tinham sido convidados para um café depois do jantar.
Enquanto falavam, aproximou-se deles uma jovem alta e morena, altiva, que se apresentou como sendo Helena Pereira, sobrinha da vítima. Vestia uns jeans desbotados e uma camisola verde tricotada à mão. Ao saber que eram os advogados de defesa de Paulo Azevedo, Helena lançou-lhes um olhar glacial enquanto dizia, - Como é que o Paulo e a namorada puderam fazer uma coisa destas à minha tia? Ela só lhes queria bem.
- A namorada? - Interrompeu Marta.
- Sim, na tarde em que a minha tia foi agredida, ouvi o Paulo e a namorada a berrar com a minha tia. Estranhei quando tudo ficou silencioso de repente e vim ver o que se passava. Foi quando encontrei a minha tia no chão, inconsciente, com um golpe na cabeça e a sala toda de pantanas.
Tiago, que se deixara ficar discretamente atrás de Marta a olhar para a sala de estar enquanto Marta falava com Helena Pereira à entrada da sala, decidiu intervir.
- Como se chama a namorada de Paulo?
- Aquessoco. Foi a primeira vez que veio cá… Conheci-a há algumas semanas. Ela já vive com o Paulo há três anos. Veio de um país de África, não sei qual…
- É muita informação para quem disse à polícia não a conhecer, - comentou Tiago sarcástico olhando Helena diretamente nos olhos.
Ela, por sua vez, corou, baixou os olhos e disse: - É o que o Paulo me contou, eu não a conheço.
Ao saírem de casa de Laura Pereira, Marta olhou para Tiago e comentou:
- De onde surgiu esta namorada, agora? O relatório da polícia não apresenta evidências de que uma rapariga tenha saído desta casa nesse dia. Apenas viram sair Paulo. O melhor é darmos uma vista de olhos ao apartamento do Paulo. Eu tenho a chave.
O apartamento em que vivia Paulo era apenas do tamanho de um quarto e havia roupas e livros espalhados por toda a parte. Perspicaz, Tiago virou-se para Marta: - Repara no cachecol de lã cinzento em cima da cadeira: não é exatamente da mesma cor que os novelos que estavam no cesto de tricô na sala de Laura Pereira? Também não me parece que o nosso arguido nadasse em dinheiro.