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Step 1 - Setting and characters
A Pista Esquecida
Portugal
Portuguese
Numa sala, fria e escura, da prisão de uma pequena cidade, a advogada de defesa Marta Costa e o seu assistente Tiago Almeida recolhem o depoimento de um jovem, de jeans, t-shirt preta, ténis Nike pretos e cabelo muito curto dos lados da cabeça, em street style.
- Paulo Azevedo, sabe que está acusado de agredir violentamente Laura Pereira, em casa dela, há dois dias, - pergunta Marta - e que a polícia encontrou as suas impressões digitais no local?
- Mas eu não fiz nada! Eu conheci a Laura num serão de poesia, na Universidade, e ia a casa dela muitas vezes, para falarmos de poesia! Eu nunca lhe faria mal! Eu não fiz nada!
A veemência das afirmações do jovem levaram Marta a voltar a encará-lo de forma mais observadora. Estaria ele a dizer a verdade?
- Pedia dinheiro a Laura? - Perguntou Tiago de forma incisiva.
Paulo ajeitou-se na cadeira, limpou as mãos às calças, pigarreou e disse: - Nunca lhe pedi nada, mas ela insistiu em pagar a minha propina ou eu teria desistido da universidade. Eu estou inocente, tem de acreditar em mim. Quando saí de casa dela, ela estava bem.
- Que horas eram? - Perguntou Tiago.
- Não sei bem, talvez umas nove e meia...
Marta olhou Paulo Azevedo nos olhos. Seria este jovem capaz de agredir uma mulher idosa como Laura Pereira de forma tão brutal? Parecia-lhe que não.
Marta e Tiago entreolharam-se. Nem um nem outro gostava de pontas soltas nos casos que defendiam e não deixavam de, quando era preciso, meter as mãos na massa e ir visitar a cena do crime. Despedem-se de Paulo com palavras animadoras: - Bom, vamos acreditar no que nos diz: que está inocente. Teremos de investigar a cena do crime com os nossos próprios olhos!
Step 2 - Crime scene
Os passos de Marta e Tiago ressoavam pela calçada húmida que os levava até uma mansão ao cimo da rua, rodeada por um jardim frondoso.
Edgar Fontes, o detetive da polícia, deixou-os entrar numa sala de estar sumptuosamente decorada, com sofás forrados de veludo vermelho escuro, já desbotado, e onde saltavam à vista quadros a óleo de pintores famosos.
Os olhos azuis e penetrantes de Marta foram de imediato atraídos para a mancha de sangue na carpete. Laura Pereira fora brutalmente agredida com um golpe de um objeto contundente na cabeça, alegadamente um pé-de-cabra, que tinha sido encontrado ao pé do corpo, manchado de sangue e com as impressões digitais de Paulo. Laura encontrava-se em estado crítico no hospital.
- Como é que um pé-de-cabra veio aqui parar? Será que o agressor entrou pela porta entreaberta, que dá para o jardim, e atacou a idosa? - Perguntou Marta.
Tiago nem respondeu. Já sabia que Marta gostava de pensar em voz alta. Sempre atento aos pormenores, chamou a atenção de Marta para o relógio de parede, cujo mostrador estava partido e marcava 9:25, para uma agulha de tricô caída junto ao sofá e para uma chávena partida, caída por baixo do sofá. No cesto do tricô havia dois novelos de lã cinzenta.
Em cima da mesa de centro encontravam-se duas chávenas e três pires. Notava-se também a marca de um objeto pesado, um cinzeiro ou taça de pedra, que deixara uma auréola de minúsculos cristais de pó sobre a mesa.
A porta entreaberta da sala abria sobre um canteiro de terra que parecia revolvido, como se alguém tivesse acabado de semear qualquer coisa. Aparentemente não havia pegadas humanas ou, talvez, alguém as tivesse dissimulado com um ancinho.
Step 3 - The detective
Marta e Tiago adoravam investigar cenas de crime. Pertenciam a um clube de detetives amadores e na sua função de advogados de defesa não perdiam oportunidade para procurarem indícios e provas, motivos e oportunidades. Quando trabalhavam juntos, quase completavam o pensamento um do outro. Ao olharem em redor da sala onde Laura Pereira fora agredida, Tiago comentou:
- Há uma coisa que não bate certo. Não se faz tricô com uma agulha só. Onde estará a outra?
- A velha senhora parece ter dado luta: Repara na chávena, partida, no chão e no mostrador também partido do relógio. Devia conhecer quem a atacou, visto que estariam três pessoas a tomar café. Desprevenida, só conseguiu pegar em pequenas coisas para se defender. - Retorquiu Marta. - É pena ela não nos poder contar o que aconteceu. De repente, Marta interrompeu-se e, agachando-se ao pé da perna de uma poltrona, apontou com o dedo para um monte de minúsculos fragmentos.
- Parecem lascas de granito. De onde terá vindo isto?
Step 4 - The suspects
- Afinal, por que razão alguém agrediu Laura Pereira?
- De acordo com a perícia da polícia que lemos, parece que o Paulo é o principal suspeito da agressão, porque foi apanhado a sair daqui pouco depois do ocorrido e havia impressões digitais dele no pé-de-cabra.
O móbil da agressão parece ter sido dinheiro: ele veio-lhe pedir dinheiro, segundo a sobrinha de Laura Pereira, uma tal Helena Pereira. Segundo o testemunho dela, ouviu vozes exaltadas em discussão na noite em que a senhora foi agredida. Segundo ela, o Paulo e a namorada tinham sido convidados para um café depois do jantar.
Enquanto falavam, aproximou-se deles uma jovem alta e morena, altiva, que se apresentou como sendo Helena Pereira, sobrinha da vítima. Vestia uns jeans desbotados e uma camisola verde tricotada à mão. Ao saber que eram os advogados de defesa de Paulo Azevedo, Helena lançou-lhes um olhar glacial enquanto dizia, - Como é que o Paulo e a namorada puderam fazer uma coisa destas à minha tia? Ela só lhes queria bem.
- A namorada? - Interrompeu Marta.
- Sim, na tarde em que a minha tia foi agredida, ouvi o Paulo e a namorada a berrar com a minha tia. Estranhei quando tudo ficou silencioso de repente e vim ver o que se passava. Foi quando encontrei a minha tia no chão, inconsciente, com um golpe na cabeça e a sala toda de pantanas.
Tiago, que se deixara ficar discretamente atrás de Marta a olhar para a sala de estar enquanto Marta falava com Helena Pereira à entrada da sala, decidiu intervir.
- Como se chama a namorada de Paulo?
- Aquessoco. Foi a primeira vez que veio cá… Conheci-a há algumas semanas. Ela já vive com o Paulo há três anos. Veio de um país de África, não sei qual…
- É muita informação para quem disse à polícia não a conhecer, - comentou Tiago sarcástico olhando Helena diretamente nos olhos.
Ela, por sua vez, corou, baixou os olhos e disse: - É o que o Paulo me contou, eu não a conheço.
Ao saírem de casa de Laura Pereira, Marta olhou para Tiago e comentou:
- De onde surgiu esta namorada, agora? O relatório da polícia não apresenta evidências de que uma rapariga tenha saído desta casa nesse dia. Apenas viram sair Paulo. O melhor é darmos uma vista de olhos ao apartamento do Paulo. Eu tenho a chave.
O apartamento em que vivia Paulo era apenas do tamanho de um quarto e havia roupas e livros espalhados por toda a parte. Perspicaz, Tiago virou-se para Marta: - Repara no cachecol de lã cinzento em cima da cadeira: não é exatamente da mesma cor que os novelos que estavam no cesto de tricô na sala de Laura Pereira? Também não me parece que o nosso arguido nadasse em dinheiro.
Step 5 - Examine the Crime Scene
De regresso à cena do crime, Marta e Tiago iam conversando:
- Pelos vistos temos três suspeitos, - comentou Marta, - Paulo, a suposta namorada dele e Helena Pereira. O que achas, Tiago? Por que terá alguém agredido de forma tão brutal Laura? Achas que terá sido a misteriosa namorada? Que motivo poderia ela ter? Ou foi ele? Se calhar queria mais dinheiro e a velha era forreta.
Tiago virou-se para Marta: - A Helena podia ter um motivo. Podia ter ciúmes do Paulo por a tia gostar tanto dele ou então não gosta dele. Por que razão nos deu tanta informação sobre a namorada?
Marta não comentou. Mentalmente revia as pistas: um pé-de-cabra que parecia ser a arma do crime e que tinha sido levado da arrecadação do jardim pelo próprio Paulo, como ele tinha contado à polícia. Segundo ele, Laura tinha-lhe pedido para ir buscar o pé-de-cabra para levantar o relógio de parede porque Helena tinha perdido uma agulha de tricô e dizia que tinha rolado nessa direção.
Uma chávena partida debaixo do sofá. Havia três chávenas, portanto três pessoas na sala. Laura e dois convidados.
Uma única agulha de tricô - se uma tinha rolado para debaixo do relógio de parede, fazia sentido que só houvesse uma.
A porta entreaberta - alguém tinha entrado ou saído? Para fazer o quê? Lascas de pedra no chão e marcas de cristais na mesa… lascas de pedra, lascas de pedra. A intuição dizia-lhe para não descartar esta pista, mas por enquanto não sabia o que fazer com ela.
Depois ainda havia a questão das horas: o relógio partido que marcava 9:25, o relatório de polícia que dizia que Paulo tinha sido avistado pelas 9:30 horas a sair de casa de Laura, cuja agressão teria ocorrido entre as 9 e as 10 horas. E ainda havia o registo da chamada de Helena para o 112 às 9:35.
Step 6 - Mystery Resolution
- Parece-me, disse Marta a Tiago, sentando-se no degrau de acesso à porta de entrada da casa de Laura, - que afinal há uma solução para este mistério.
Tiago nem respondeu. Já estava habituado às deduções de Marta, mas ele também já tinha resolvido o mistério. - Cavamos a terra do lado de fora da porta entreaberta da sala? Perguntou.
- Claro! - Respondeu Marta.
- E o que esperas encontrar? Um objeto de pedra, de granito, não é assim? Provavelmente com restos de sangue. Estás a ficar um mestre, Tiago. Vamos lá. Ninguém nos proibiu de cavar do lado de fora da cena do crime.
Ao revolverem a terra do canteiro, encontraram um cinzeiro de granito, lascado e com marcas de sangue. Sorriram um para o outro:
- Afinal o pé-de-cabra não é a arma do crime. Alguém quis parecer que fosse. Este cinzeiro é que foi arremessado à cabeça de Laura. Só resta saber por quem - comentou Marta.
Tiago voltou a vestir o casaco que tinha despido para mexer na terra. - O que precisávamos de encontrar agora era a agulha de tricô que falta.
- Estás enganado: não precisamos da agulha de tricô para resolver o mistério. Já sei que o Paulo não matou Laura Pereira. Foi Helena.
- Como chegaste a essa conclusão?
- A agulha de tricô debaixo do relógio de parede foi um engodo para culpar Paulo. Reparaste na camisola tricotada à mão que Helena vestia? Pensámos desde o início que o tricô era de Laura, mas estávamos enganados. É de Helena. E quem achas que tricotou o cachecol que encontrámos em casa de Paulo?
- Helena. Provavelmente a miúda vive caída pelo rapaz. - Concordou Tiago.
Marta sorriu confiante:
- Está-me a parecer que não há namorada nenhuma na história e que foi Helena quem agrediu a tia brutalmente depois do Paulo sair e que escondeu o cinzeiro no canteiro debaixo da terra. Provavelmente por despeito, porque o Paulo gostava mais de estar com a tia dela do que com ela. Vai-se a ver tem um historial de violência.
- Mas havia três chávenas - retorquiu Tiago.
- Para mim ela ter-se-á descontrolado, agrediu a tia depois do Paulo sair e chamou de seguida o 112. Só teve tempo para esconder a arma do crime na terra do canteiro e de manchar o pé-de-cabra com sangue da tia. Para se ilibar, colocou uma terceira chávena na sala: se não fosse o Paulo o culpado, seria a tal namorada, que ela inventou. Reparaste como ela nos falou logo na namorada!? Anda daí, já sei como vamos defender o Paulo da acusação de agressão. - Respondeu Marta.
Tiago, habituado a completar os pensamentos da colega, delineou uma estratégia de atuação:
- Só temos de pedir que analisem as impressões digitais das chávenas para excluir a ‘namorada’. O cinzeiro tem com certeza as impressões digitais da Helena e o sangue de Laura. O cachecol tricotado para o Paulo pela Helena, que encontrámos em casa dele, pode ser uma prova de que ela gosta dele e que tem ciúmes da tia.
- Ele é tão distraído que se calhar ainda nem reparou que ela gosta dele! - Concluiu Marta.
Step 7 - The story trailer
Um jovem na prisão acusado de uma agressão a uma idosa rica, que diz não ter cometido. Dois advogados de defesa armados em detetives que decidem apurar a verdade. Uma história de mistério em que as pistas se acumulam, os suspeitos mentem e os motivos não são o que parecem. Marta e Tiago, o brilhante par de detetives usam a observação e a dedução para resolver o mistério.

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